Crítica de Cinema: A Ressaca
Posted by Programa Enter
por: Ronaldo D'Arcadia
Este não é o filme em que quatro caras saem para uma despedida de solteiro e perdem o noivo. Neste filme quatro caras descobrem uma banheira do tempo, que os leva de volta para os anos 80.
Os amigos Adam, Nick, Lou e o agregado Jacob não passam por bons momentos. Adam (John Cusak) acabou de romper com a namorada de forma desastrosa e está infeliz com sua vida e trabalho. Nick (Craig Robinson), que antes era um cantor que prometia muito, agora trabalha em um pet shop cuidando de problemas indigestos de cachorros. Lou (Rob Corddry) sempre foi um lunático, que de tanto beber acaba quase cometendo um duvidoso suicídio. Jacob (Clark Duke) é o jovem sobrinho de Adam, ele vive enfurnado no porão de casa curtindo a vida intensamente em seu “Second Life”.
Todos estavam na pior quando resolveram se reunir depois de muito tempo (incentivados pelo possível suicídio de Lou) para lembrar os gloriosos momentos do passado vividos na pequena Kodiak Valley, uma cidadezinha coberta pela neve e ótima para esquiar e se drogar aos montes, pelo menos era, para eles. Jacob, mesmo não tendo participado dessas aventuras todas, vai à tira colo, meio a contra gosto.
Ao chegarem, percebem que o local já não é o mesmo. Lojas e boates fechadas, tudo esquecido e jogado as traças. Mesmo assim eles se hospedam no mesmo quarto de muitos anos atrás, e apesar do desanimo parecer reinar entre eles, uma linda banheira aparece reluzente e borbulhenta, e todos se jogam nela, onde passam a noite bebendo para valer, principalmente um tipo de energético ilegal da Rússia, idéia de Lou.
Sem muitas explicações eles voltam no tempo, mas precisamente aos anos oitenta, e assustados com a realidade alternativa em que se meteram, bolam um plano para voltar para casa são e salvos: seguir passo a passo a linha do tempo, para assim não mudar nada no futuro. O dia do passado em que eles voltaram é exatamente o dia em que eles viveram lá suas gloriosas juventudes, e apesar de se enxergaram como velhos, para o resto das pessoas do passado eles estão novinhos em folha, ou seja, não existem outros deles, eles assumiram seus lugares no espaço tempo, sendo Jacob o único que ainda não existia naquela época.
“A Ressaca” começa relativamente bem, apresentando seus personagens e seus dilemas. Apoiados por um elenco de qualidade, o texto funciona e diverte, prendendo sua atenção no início. A cena em que eles descobrem estar no passado é hilária, uma coleção de referências aos anos 80, talvez a década mais cafona de todas. Até mesmo a esquecida banda de glam rock Poison, uma das mais afeminadas da história, é fortemente lembrada no filme. Tudo isso acaba dando um toque de classe para a obra, e a produção do filme se destaca com seus figurinos, sua trilha sonora temática e a construção de uma época perdida, pelo menos inicialmente.
Infelizmente o interesse acaba aí, pois o roteiro se mostra muito deficiente e previsível, fazendo tudo ir por água abaixo. Primeiramente a motivação dos personagens é tão fraca que realmente não faz o mínimo sentido, pois afinal, tirando Jacob, todos têm a chance de viver suas vidas de novo, acertar onde erraram e ganhar mais vinte e poucos anos de vida, por que eles iriam querer voltar para suas vidas fracassadas?
Outro fator que tenta ser trabalhado é a relação de amizades entre eles, que estava enfraquecida pela vida e suas reviravoltas. Eles já não se consideravam tão amigos como antes, e procuravam entender o porquê disso. Apesar da tentativa esperta, o contexto não é explorado de forma satisfatória, ficando renegado a um subdrama sem profundidade e qualidade. O humor não é dos piores, mas o estilo “SuperBad” de ser precisa de elementos interessantes para fazer sua história rolar, e não apenas empurrar com a barriga tudo e todos a sua frente, inventando vilões descartáveis e soluções instantâneas para seus problemas. Até mesmo o sentimento de passado se perde em certos momentos, como se apenas as pessoas vestirem verde, amarelo e azul bastassem para simbolizar o período. Para tentar segurar essa onda, inúmeras referencias dos tempos moderno são citadas, mas não produzem o efeito esperado devido à forma capenga em que são jogadas na história, com exceção da cena onde Nick canta um hit moderno para o público.
No final, “A Ressaca” é mais perda de tempo do que diversão. Explorando de forma precária a viagem no tempo, o filme tenta ser engraçado de forma forçada, dramático de maneira resumida. O melhor fica para os créditos finais ao som de Mötley Crüe (talvez o momento mais oitentista do filme) e alguns personagens que passam despercebidos, como Phil, interpretado pelo esquisito Crispin Glover, e o “The Repairman” (ou o cara que conserta) vivido pelo icônico Chevy Chase. O time principal, liderado por Cusak, tem seus momentos, mas infelizmente se perde no descompasso da obra. A única pergunta que fica é: como o titulo original “Hot Tube Time Machine” virou “A Ressaca”?