Archive for setembro 2010

Crítica de Cinema: Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme

Posted by Programa Enter

Por: Ronaldo D'Arcadia


A ganância é uma coisa boa? A questão é relevante, pois afinal é ela (a ganância) que faz o governo de um país ir atrás de melhorias para seu povo, que faz o homem comum evoluir como ser humano, que incentiva você a não ficar parado no mesmo lugar. O problema maior é a linha tênue entre a ganância e a falta de ética e moral, duas virtudes que parecem não existir na cartilha dos investidores milionários.

Quem já assistiu “Wall Street: Poder e Cobiça”, viu uma das melhores atuações de Michael Douglas, que na época levou o Oscar para casa. O personagem Gordon Gekko é ironicamente cativante, com sua índole desprezível e sua lábia sociopata. Mas ele pagou o preço por suas fraudes e lavagens de dinheiro, e acabou preso, servindo de exemplo para os capitalistas selvagens que transitam em seus helicópteros por Nova York. Apenas em 2001 ele foi solto, sem muito dinheiro no bolso, barba por fazer, e um celular último modelo de 1987, pesando dois quilos no mínimo.

Avançando no tempo, mas precisamente em 2008, somos apresentados a Jake Moore (Shia Labeouf), jovem estereótipo de Wall Street, que apesar de sua vontade de fazer fortuna, é um idealista dos investimentos em energia limpa e sustentável, atitude que talvez seja o único motivo plausível do envolvimento com Winnie (Carey Mulligan), filha de Gekko, que despreza o pai e tudo que o rodeia. Ela, também uma idealista, trabalha fortemente com seu site ativista, divulgando verdades inconvenientes mundo afora.

Jake trabalha apostando em mercados financeiros na renomada Keller Zabel, que aparentemente passa por uma crise. Como o mercado não aposta em investimentos ”aparentemente” confiáveis, o preço das ações da empresa despenca, e Lois Zabel (Frank Langella), que comanda toda a bagunça, se reuni com o Banco Central Americano para tentar manter-se em pé. Dentro de um meio movido por interesses e rinchas antigas, Zabel é praticamente apunhalado na reunião, tendo sua empresa comprada por seu inimigo Bretton James (Josh Brolin), do banco de investimentos Churcill Schwartz, a preço de banana.

Gekko sabe tudo que se passa por trás da economia, entre problemas e falcatruas, apunhaladas e chantagens, e Jake, como pupilo de Zabel, quer ir a fundo no assunto e descobrir o que aconteceu realmente. Ele então se aproxima do sogro em busca de “consultoria”, e em troca promete tentar aproximar Gekko de sua filha. Uma troca “aparentemente” segura.

Entre muitas informações que estouram como “bolhas”, “Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme” é um bom filme. Usando como pano de fundo toda a agressividade velada de Wall Street, o roteiro conta a história de um homem que busca sua redenção, tentando voltar aos negócios e se aproximar de sua única filha, que o odeia e o culpa pela morte do irmão, viciado em drogas. É claro que Gekko mudou, mas não o suficiente, para nosso alívio.

Oliver Stone dirige esta sequência com muita atenção aos detalhes, fazendo ligações diretas ao seu primeiro filme, fato que pode ser observado já na abertura dos créditos. O destaque vai com certeza para a edição contemporânea e criativa, que traz os colossais prédios de Nova York formando gráficos financeiros, e por ai vai. Utilizando do humor de forma inteligente, a obra também é recheada de referências, como a participação de Bud Fox, interpretado por Charlie Sheen. Só de aparecer o público já cai na gargalhada, pois o ator mais parece estar a caminho de filmar algum episódio de “Two And a Half Man”, com um sorriso sacana no rosto, acompanhado de duas lindas garotas.

Um dos pontos que deixa a desejar é o drama entre o pai Gekko e a filha Winnie. Carey Mulligan, que já provou ser uma excelente atriz com sua interpretação em “Educação”, parece meio desconfortável no papel da ressentida filha, que hora odeia, hora se rende facilmente aos argumentos do pai, sendo que no final sua personalidade parece forçada, e seu texto também não ajuda. O resto do elenco se sai bem melhor. Shia Labeouf, que ainda paga o preço de ter vendido sua alma ao Michael Bay, é um bom ator, que trabalha com humildade seu Jake Moore, não entregando um rapaz onisciente e arrogante, inteligente sim, mais ainda com muito a apreender. Michael Douglas não consegue repetir o êxito total de seu primeiro Gekko, mas com um personagem desses fica difícil errar. Talvez Douglas tenha ficado menos inescrupuloso com o passar dos anos, assim como seu personagem, mas no geral, suas tramóias continuam dignas de mestre. Temos ainda Josh Brolin como Bretton James. O ator, que já trabalhou com Stone em “W.” (obra que ainda não deu as caras no Brasil), está muito bem e mostra confiança como um perfeito cretino engravatado. Destaque para Frank Langella com sua pequena e excelente participação como Lois Zabel. Susan Sarandon também aparece como a mãe de Jake, mas sua personagem acaba sendo pouquíssima explorada.

“Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme” não supera seu antecessor, mas funciona. Com uma trama elaborada - que traz a bolha financeira como personagem importante-, o filme derrapa no drama, mas convence na dinâmica e fluidez da trama geral. Com boas interpretações, uma direção segura e edição competente, a obra agrada a todos, e é um prato cheio aos interessados pelo tema. A ganância é uma coisa boa? Assista e tire suas conclusões.

O mundo dos investimentos não teria a menor graça sem Gordon Gekko.

Crítica de Cinema: Batalha por T.E.R.A

Posted by Programa Enter

Por: Ronaldo D'Arcadia



Depois de três anos de sua estréia, “Batalha por T.E.R.A” chega ao Brasil em 3D.
Toda animação precisa ter bem definido seu público alvo, para assim não correr os riscos de um empreendimento sem identidade certa. Esta falta de direcionamento é um dos problemas da animação “Batalha por T.E.R.A”, do diretor canadense Aristomenis Tsirbas. Mas apesar dos evidentes erros, o filme acaba chamado a atenção.


A história se passa em um futuro onde nosso planeta Terra pereceu. Após drenar todos os recursos naturais disponíveis, a raça humana entrou em guerra e o resultado foi à destruição total. Vagando pelo universo em busca de um lugar para recomeçar, os sobreviventes se deparam com o planeta T.E.R.A, onde esta nova existência seria possível. No local vive uma raça harmoniosa e pacífica, que através de sua religião convive em paz com o universo, por assim dizer. Claramente que os humanos, para lutar pela continuidade de sua raça, chegaram sem pedir licença, tentando realizar uma colonização violenta.
Em meio a uma batalha inicial, o soldado Jim Stanton acaba sofrendo um acidente com sua nave de ataque e é socorrido pela bondosa (e cheia de personalidade) Mala, habitante daquele planeta. O pai de Mala foi capturado pelos humanos e sua esperança é que Jim ajude a encontrá-lo. Percebendo a índole pacífica de sua salvadora, e consequentemente de seu povo, o soldado começa a enxergar que a dominação por meio da força imposta pelos humanos está errada, e isso muda tudo para ele.


Podemos notar que o roteiro não traz nada de novo. A relação forasteiro que se afeiçoa pelo inimigo é então trabalhada como tema principal. Mas apesar de batido, este epicentro da trama acaba se desenrolando de forma muito natural, sendo que no final a relação de amizade entre Jim e Mala acaba salvando todo o filme. Trabalhando com mais coesão o drama e apenas flertando com o humor, a história aborda de forma eficaz a ignorância da guerra, mostrando com situações extremas que as escolhas em um campo de batalha sempre são injustas quando conhecemos os dois lados da moeda. O soldado Jim só tinha em mente os amigos que morrerão em acidentes de sua nave mãe, que estava velha e perigosamente instável com o passar dos muitos anos de viagem pelo universo, mas depois de conhecer Mala, suas necessidades acabaram se mostrando não maiores do que as dela.



Com uma proposta aparentemente focada nos mais jovens, o filme pode não agradar tanto, devido ao conteúdo dramático, assim como pode espantar alguns adultos que buscam animações com mais requinte visual. E o requinte visual realmente deixa a desejar. O planeta T.E.R.A é terrivelmente desprovido de beleza, sendo basicamente uma nuvem espessa de onde saem grandes espécies de troncos, que servem de casa para os habitantes. Sem cor e sem graça, o local não cativa, em nenhum momento, uma espécie de apego. Os habitantes do planeta seguem a mesma linha, parecendo bonecos de massa mal acabados. Já os humanos são um pouco mais trabalhados, mas o aspecto plástico e a falta de detalhes são evidentes. A qualidade técnica não é necessariamente fator crucial para um filme ser bom, mas se tratando de uma animação, e comparando o que vem sendo feito por outros estúdios na área, realmente ficam claras as limitações. Temos algumas boas sequências, como a nave de Jim disparando seus foguetes em slow com uma bonita luz por trás, mas no geral, o aspecto visual não é o maior atrativo. Nem mesmo o 3D salva, sendo explorado de forma irrisória.
A dublagem nacional é decente e consegue captar bem o sentimento de seus personagens. No time dos dubladores originais temos nomes famosos como Brian Cox dando vida ao vilão implacável do longa, o General Hemmer, Evan Rachel Wood como a já citada heroína de ocasião Mala, Luke Wilson como o corajoso Jim Stanton. Temos ainda nomes como Ron Perlman, Dennis Quaid, Danny Trejo, Justin Long, Amanda Peet, Chris Evans e Danny Glover.
Possuindo uma espécie de charme “Star Trek”, abordando os costumes e características de novas raças, e apresentando detalhes inovadores – que não vem ao caso citar – da aniquilação da Terra, o filme possui seu carisma, só que ao mesmo tempo esbarra nos problemas técnicos e de criação já citados. Apesar da trama comum, o texto acaba trabalhando bem a relação dos personagens principais, explorando de forma humilde e positiva uma mensagem de tolerância. Começando de forma arrastada, engrenando no segundo ato e finalizando de maneira muito interessante, “Batalha por T.E.R.A” poderia ser melhor estruturado, mas passa sua mensagem.

Crítica de Cinema: Resident Evil - Recomeço

Posted by Programa Enter

Por: Ronaldo D'Arcadia

O primeiro filme ruim em IMAX 3D a gente nunca esquece. Quando todos pensavam que com “Resident Evil: A Extinção” a franquia teria um fim, eis que surge o “recomeço”.


Paul WS. Anderson é cara do “quase lá”. Tirando a ofensa que é o primeiro “Alien vs. Predador”, seus outros filmes “quase” foram aceitáveis, como o recente “Corrida Mortal”, “O Soldado do Futuro”, o campeão da sessão da tarde “Mortal Kombat”, ou mesmo o seu “quase” maior êxito, “Resident Evil: O Hóspede Maldito”.
Tendo escrito e produzido os três primeiros filmes da franquia “Resident Evil”, e dirigido apenas o primeiro, ele agora volta para a cadeira de diretor neste “Recomeço”, mas novamente falha na sua intenção de rodar um bom longa metragem de ação.


A história começa com estilo, créditos maneiros, atenção na produção e edição. Vem então uma bonita cena em slow motion (afinal, o que fica ruim em slow motion?) com um take de um ângulo superior, o famoso plongê, onde podemos avistar diversos guarda-chuvas transitando ao redor de uma menina que chora imóvel sob a água. Bem, depois de quase vomitar na cabeça do colega crítico da frente devido a uma infinidade de zoom in e zoom out rodopiantes em torno do globo, se inicia um tiroteio tão insano, que, confesso ter ficado feliz de sair vivo dele.
Anderson confirma então sua mediocridade como roteirista, apresentando um fiapo de história lamentável. Tudo gira em torno da vontade de Alice encontrar sobreviventes e fugir da corporação Umbrella, que a persegue devido seu valioso DNA. Seguindo os fatos já citados no filme anterior, ela parte atrás de um local chamado Arcadia (boa escolha de nome), que manda sinais por rádio oferecendo abrigo e ajuda. Após voar para o Alasca, não achar nada e dar com os burros em água fria, ela descobre que o lugar na verdade é um navio. Por fim, ela sai voando pelo mundo e acaba aterrissando seu teco-teco no teto de um presídio onde existem sobreviventes, e de lá avistam o Arcadia ancorado próximo a orla. Eles precisam então descobrir um jeito de chegar até seu estimado destino, e para isso terão de matar milhões de zumbis. Mas adivinhem, nem tudo é o que diz ser.


Com uma direção supostamente arrojada, com seu IMAX 3D imponente, o filme até traz algumas sequências interessantes de se ver, com muitos efeitos especiais e elementos “Matrix” para deixar tudo “cool”, mas com um andamento tão precário, um texto simplesmente ruim e interpretações no piloto automático, tudo se perde e acaba parecendo um vídeo clipe gigante. Outra falha gritante é a limpeza e a beleza de seus personagens, onde, em meio ao fim do mundo, mulheres estão sempre lindas e produzidas com cortes de cabelo de Hollywood, e os homens com suas barbas estilizadas, perfeitamente alinhadas. Uma falta de noção que beira o egocentrismo.


Milla Jovovich, que não emplaca um bom filme desde “O Quinto Elemento”, está apática e sonolenta como a heroína da fita. Sua função principal é primeiramente contar tudo que está acontecendo por meio de diálogos em voice-over, e depois matar hordas de zumbis fazendo cara de capa de revista. O elenco de apoio também aparece perdido, sem saber da onde veio e para onde vai. Wentworth Miller, do seriado “Prison Break”, até que tenta dar uma amenizada no clima com seu Chris Redfield, mas não há talento que salve a falta de atenção com que os personagens foram construídos, meros estereótipos prontos para serem mortos. Mesmo o vilão Albert Weske – que está muito parecido com o vilão do game -, interpretado por Shawn Roberts, está canastrão e pouco convincente.



O fator “game” ainda salvou a pontuação final deste filme. Apesar de reinventar praticamente toda a história, o diretor Anderson teve a atenção de colocar referências do último jogo da franquia, “Resident Evil 5”. Temos o carrasco enorme e seu machado descomunal, zumbis com bocas deformadas que mais parecem plantas carnívoras, cachorros do inferno que se abrem ao meio se transformando em uma boca só, e o já citado vilão Weske, que está muito parecido com o original. Chris também não foi esquecido, apesar de sua passagem ser decepcionante, como também já foi citado.
Mesmo colocando estes elementos, no final “Resident Evil: Recomeço” não honra a tradição do game que um dia teve a pretensão de adaptar. O clima de desespero e nervosismo simplesmente não existe. Parece que apenas as cenas de ação receberam algum tipo de atenção dos produtores, que esqueceram o primordial para tudo funcionar bem: uma história bem contada, coisa que o jogo faz sem dificuldade. Resumindo, a obra é um espetáculo de baboseiras com um roteiro pífio e apenas uma idéia na cabeça, levantar mais grana. Com a bilheteria que fez o próximo já está praticamente confirmado.


Crítica de Cinema: A Ressaca

Posted by Programa Enter

por: Ronaldo D'Arcadia

Este não é o filme em que quatro caras saem para uma despedida de solteiro e perdem o noivo. Neste filme quatro caras descobrem uma banheira do tempo, que os leva de volta para os anos 80.

Os amigos Adam, Nick, Lou e o agregado Jacob não passam por bons momentos. Adam (John Cusak) acabou de romper com a namorada de forma desastrosa e está infeliz com sua vida e trabalho. Nick (Craig Robinson), que antes era um cantor que prometia muito, agora trabalha em um pet shop cuidando de problemas indigestos de cachorros. Lou (Rob Corddry) sempre foi um lunático, que de tanto beber acaba quase cometendo um duvidoso suicídio. Jacob (Clark Duke) é o jovem sobrinho de Adam, ele vive enfurnado no porão de casa curtindo a vida intensamente em seu “Second Life”.

Todos estavam na pior quando resolveram se reunir depois de muito tempo (incentivados pelo possível suicídio de Lou) para lembrar os gloriosos momentos do passado vividos na pequena Kodiak Valley, uma cidadezinha coberta pela neve e ótima para esquiar e se drogar aos montes, pelo menos era, para eles. Jacob, mesmo não tendo participado dessas aventuras todas, vai à tira colo, meio a contra gosto.

Ao chegarem, percebem que o local já não é o mesmo. Lojas e boates fechadas, tudo esquecido e jogado as traças. Mesmo assim eles se hospedam no mesmo quarto de muitos anos atrás, e apesar do desanimo parecer reinar entre eles, uma linda banheira aparece reluzente e borbulhenta, e todos se jogam nela, onde passam a noite bebendo para valer, principalmente um tipo de energético ilegal da Rússia, idéia de Lou.

Sem muitas explicações eles voltam no tempo, mas precisamente aos anos oitenta, e assustados com a realidade alternativa em que se meteram, bolam um plano para voltar para casa são e salvos: seguir passo a passo a linha do tempo, para assim não mudar nada no futuro. O dia do passado em que eles voltaram é exatamente o dia em que eles viveram lá suas gloriosas juventudes, e apesar de se enxergaram como velhos, para o resto das pessoas do passado eles estão novinhos em folha, ou seja, não existem outros deles, eles assumiram seus lugares no espaço tempo, sendo Jacob o único que ainda não existia naquela época.

“A Ressaca” começa relativamente bem, apresentando seus personagens e seus dilemas. Apoiados por um elenco de qualidade, o texto funciona e diverte, prendendo sua atenção no início. A cena em que eles descobrem estar no passado é hilária, uma coleção de referências aos anos 80, talvez a década mais cafona de todas. Até mesmo a esquecida banda de glam rock Poison, uma das mais afeminadas da história, é fortemente lembrada no filme. Tudo isso acaba dando um toque de classe para a obra, e a produção do filme se destaca com seus figurinos, sua trilha sonora temática e a construção de uma época perdida, pelo menos inicialmente.

Infelizmente o interesse acaba aí, pois o roteiro se mostra muito deficiente e previsível, fazendo tudo ir por água abaixo. Primeiramente a motivação dos personagens é tão fraca que realmente não faz o mínimo sentido, pois afinal, tirando Jacob, todos têm a chance de viver suas vidas de novo, acertar onde erraram e ganhar mais vinte e poucos anos de vida, por que eles iriam querer voltar para suas vidas fracassadas?

Outro fator que tenta ser trabalhado é a relação de amizades entre eles, que estava enfraquecida pela vida e suas reviravoltas. Eles já não se consideravam tão amigos como antes, e procuravam entender o porquê disso. Apesar da tentativa esperta, o contexto não é explorado de forma satisfatória, ficando renegado a um subdrama sem profundidade e qualidade. O humor não é dos piores, mas o estilo “SuperBad” de ser precisa de elementos interessantes para fazer sua história rolar, e não apenas empurrar com a barriga tudo e todos a sua frente, inventando vilões descartáveis e soluções instantâneas para seus problemas. Até mesmo o sentimento de passado se perde em certos momentos, como se apenas as pessoas vestirem verde, amarelo e azul bastassem para simbolizar o período. Para tentar segurar essa onda, inúmeras referencias dos tempos moderno são citadas, mas não produzem o efeito esperado devido à forma capenga em que são jogadas na história, com exceção da cena onde Nick canta um hit moderno para o público.

No final, “A Ressaca” é mais perda de tempo do que diversão. Explorando de forma precária a viagem no tempo, o filme tenta ser engraçado de forma forçada, dramático de maneira resumida. O melhor fica para os créditos finais ao som de Mötley Crüe (talvez o momento mais oitentista do filme) e alguns personagens que passam despercebidos, como Phil, interpretado pelo esquisito Crispin Glover, e o “The Repairman” (ou o cara que conserta) vivido pelo icônico Chevy Chase. O time principal, liderado por Cusak, tem seus momentos, mas infelizmente se perde no descompasso da obra. A única pergunta que fica é: como o titulo original “Hot Tube Time Machine” virou “A Ressaca”?

Crítica de Cinema: [Rec]2 - Possuídos

Posted by Programa Enter

Por: Ronaldo D'Arcadia

Com câmera tremida e muito sangue, “[Rec] 2 – Possuídos” tenta repetir o sucesso de 2007, mas falha mortalmente.

Quando “[Rec]” estreou nos cinemas em 2007, todos se surpreenderam com a criatividade da proposta oferecida pelos diretores e roteiristas Jaume Balagueró e Paco Plaza. Fazendo a câmera realmente existir na realidade do filme, fomos apresentados a uma equipe de televisão que realizava uma matéria sobre o dia a dia dos bombeiros. Em uma chamada de emergência, tarde da noite, os mesmos se deparam com algo muito estranho: pessoas que pareciam animais raivosos, que atacavam sem a menor explicação. Isolados neste edifício, eles buscavam uma forma de sair dali com vida, mas sempre registrando tudo que estava acontecendo.

Três anos depois, com mais dinheiro e mais visibilidade, “[Rec] 2 – Possuídos” volta ao mesmo prédio, praticamente momentos depois do término do primeiro filme. Agora quem está filmando é a própria equipe da policia, que levou um cinegrafista para acompanhá-los. O local está em quarentena, ninguém entra e nem sai, apenas eles seriam a exceção, para averiguar o que estava acontecendo de fato. Juntos a eles estava Dr. Owen, principal responsável pela entrada do grupo no prédio. Depois de trombar com os humanos insanos, eles se perguntam por que diabos estavam ali. É aí que Dr. Owen revela que existem muitos outros fatores por trás desta incursão ao lugar inóspito, e que essas pessoas podem estar mais do que infectadas com alguma doença, elas podem estar possuídas, como avisa o título.

“[Rec]” não foi o primeiro filme a explorar este conceito de videomaker no sufoco. Devemos lembrar que muito antes disso “A Bruxa de Blair” já havia enganado muita gente devida sua inusitada câmera de mão. Vamos dizer então que o filme de Balagueró e Plaza levou o conceito para um novo nível, modernizando e deixando tudo muito mais atraente. Mesmo J.J Abrams, aparentemente inspirado, flertou com o formato, produzindo em 2008 seu “Cloverfield - Monstro”. Mas apesar de todo o sucesso, o segundo filme da série realmente foi uma decepção por dois motivos: primeiramente, errou em situações onde havia acertado antes, e depois, não apresentou nada novo.

Um dos pontos mais falhos é com certeza a construção das cenas. Aparentemente espontâneas, sequencias de tom documental devem ser milimetricamente elaboradas (Green Grass que o diga) senão tudo perde o encanto. Neste segundo filme, os diretores investiram nos sustos e esqueceram a agonia do suspense de suas tomadas. Apesar de alguns momentos horripilantes, a obra não consegue explorar aquela áurea de desespero de seu antecessor. Além disso, a câmera realiza movimentos improváveis, pois, qual é a reação de uma pessoa que está filmando uma briga? Em 99,9% dos casos ela se afasta para pegar a cena inteira. Já no filme, o cinegrafista parece ficar dando pulos de encontro aos possuídos, um vai e vem que faz tudo virar uma anarquia geral, sempre envolta em gritos, grunhidos e rostos demoníacos que aparecem de relance, e só lembrando, quem está filmando não é um amador. E a falta de criatividade perdura o filme todo, até mesmo o elemento “a câmera caiu no chão”, obrigatório nessas ocasiões, é repetido muitas vezes e perde o charme.

Outro fator que também não ajuda em nada são os atores antipáticos e limitados. Renegados a tentarem simular desespero, eles mais parecem estar em uma novela mexicana do que um filme de suspense, a não ser pelos inúmeros palavrões proferidos. Mesmo a eficiente Manuela Velasco, que estava incrível no primeiro longa como a repórter Ángela Vidal, neste parece desconfortável com o roteiro precário que se baseia apenas em fazer cara de desesperada e desferir xingamentos para enfatizar sua vontade de sair do local.

No segundo ato temos ainda a aparição de alguns personagens que invadem a área restrita, sendo eles um grupo de adolescentes, um bombeiro e um morador. O único que possui uma motivação que não beira o ridículo é o morador, que vai atrás de seus familiares, já o bombeiro e os garotos, simplesmente não compensa comentar aqui as razões de suas entradas, e nem a facilidade do ato. São os famosos bois de piranhas, que estão ali para serviram de aperitivo.

Com um desfecho fraquíssimo, “[Rec] 2 – Possuídos” explica demais e agrada de menos. Interpretações fajutas e reciclagens de cenas, agora mais confusas e mal elaboradas, comprometem toda a história. É curioso analisarmos como duas obras geneticamente parecidas podem ter um resultado final tão diferente.