Crítica de Cinema: [Rec]2 - Possuídos

Posted by Programa Enter

Por: Ronaldo D'Arcadia

Com câmera tremida e muito sangue, “[Rec] 2 – Possuídos” tenta repetir o sucesso de 2007, mas falha mortalmente.

Quando “[Rec]” estreou nos cinemas em 2007, todos se surpreenderam com a criatividade da proposta oferecida pelos diretores e roteiristas Jaume Balagueró e Paco Plaza. Fazendo a câmera realmente existir na realidade do filme, fomos apresentados a uma equipe de televisão que realizava uma matéria sobre o dia a dia dos bombeiros. Em uma chamada de emergência, tarde da noite, os mesmos se deparam com algo muito estranho: pessoas que pareciam animais raivosos, que atacavam sem a menor explicação. Isolados neste edifício, eles buscavam uma forma de sair dali com vida, mas sempre registrando tudo que estava acontecendo.

Três anos depois, com mais dinheiro e mais visibilidade, “[Rec] 2 – Possuídos” volta ao mesmo prédio, praticamente momentos depois do término do primeiro filme. Agora quem está filmando é a própria equipe da policia, que levou um cinegrafista para acompanhá-los. O local está em quarentena, ninguém entra e nem sai, apenas eles seriam a exceção, para averiguar o que estava acontecendo de fato. Juntos a eles estava Dr. Owen, principal responsável pela entrada do grupo no prédio. Depois de trombar com os humanos insanos, eles se perguntam por que diabos estavam ali. É aí que Dr. Owen revela que existem muitos outros fatores por trás desta incursão ao lugar inóspito, e que essas pessoas podem estar mais do que infectadas com alguma doença, elas podem estar possuídas, como avisa o título.

“[Rec]” não foi o primeiro filme a explorar este conceito de videomaker no sufoco. Devemos lembrar que muito antes disso “A Bruxa de Blair” já havia enganado muita gente devida sua inusitada câmera de mão. Vamos dizer então que o filme de Balagueró e Plaza levou o conceito para um novo nível, modernizando e deixando tudo muito mais atraente. Mesmo J.J Abrams, aparentemente inspirado, flertou com o formato, produzindo em 2008 seu “Cloverfield - Monstro”. Mas apesar de todo o sucesso, o segundo filme da série realmente foi uma decepção por dois motivos: primeiramente, errou em situações onde havia acertado antes, e depois, não apresentou nada novo.

Um dos pontos mais falhos é com certeza a construção das cenas. Aparentemente espontâneas, sequencias de tom documental devem ser milimetricamente elaboradas (Green Grass que o diga) senão tudo perde o encanto. Neste segundo filme, os diretores investiram nos sustos e esqueceram a agonia do suspense de suas tomadas. Apesar de alguns momentos horripilantes, a obra não consegue explorar aquela áurea de desespero de seu antecessor. Além disso, a câmera realiza movimentos improváveis, pois, qual é a reação de uma pessoa que está filmando uma briga? Em 99,9% dos casos ela se afasta para pegar a cena inteira. Já no filme, o cinegrafista parece ficar dando pulos de encontro aos possuídos, um vai e vem que faz tudo virar uma anarquia geral, sempre envolta em gritos, grunhidos e rostos demoníacos que aparecem de relance, e só lembrando, quem está filmando não é um amador. E a falta de criatividade perdura o filme todo, até mesmo o elemento “a câmera caiu no chão”, obrigatório nessas ocasiões, é repetido muitas vezes e perde o charme.

Outro fator que também não ajuda em nada são os atores antipáticos e limitados. Renegados a tentarem simular desespero, eles mais parecem estar em uma novela mexicana do que um filme de suspense, a não ser pelos inúmeros palavrões proferidos. Mesmo a eficiente Manuela Velasco, que estava incrível no primeiro longa como a repórter Ángela Vidal, neste parece desconfortável com o roteiro precário que se baseia apenas em fazer cara de desesperada e desferir xingamentos para enfatizar sua vontade de sair do local.

No segundo ato temos ainda a aparição de alguns personagens que invadem a área restrita, sendo eles um grupo de adolescentes, um bombeiro e um morador. O único que possui uma motivação que não beira o ridículo é o morador, que vai atrás de seus familiares, já o bombeiro e os garotos, simplesmente não compensa comentar aqui as razões de suas entradas, e nem a facilidade do ato. São os famosos bois de piranhas, que estão ali para serviram de aperitivo.

Com um desfecho fraquíssimo, “[Rec] 2 – Possuídos” explica demais e agrada de menos. Interpretações fajutas e reciclagens de cenas, agora mais confusas e mal elaboradas, comprometem toda a história. É curioso analisarmos como duas obras geneticamente parecidas podem ter um resultado final tão diferente.

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