Crítica de Cinema: Meu Malvado Favorito

Posted by Programa Enter

Por: Ronaldo D'Arcadia

Trazendo valores família, “Meu Malvado Favorito” cumpre seu papel de divertir, mas não vai muito longe.

Ser o maior vilão do mundo sempre foi o sonho de Gru (Steve Carrel). Ele já realizou algumas façanhas, mas nenhuma que alavancasse sua carreira no mundo do crime. Após descobrir que o mal feitor Vetor (Jason Segel) roubou as Pirâmides do Egito, ele se vê obrigado a agir, bolando assim um plano fantástico: Adquirir uma arma encolhedora e roubar a lua, entrando de vez para o hall da fama do mal. A tarefa seria ingrata senão fosse a inusitada ajuda da qual necessitaria: a de três pequenas órfãs. Este relacionamento, primeiramente baseado apenas em interesses malignos, revelaria então que no peito de Gru bate um coração.

“Meu Malvado Favorito” é uma boa diversão, apesar de muitas inconsistências no roteiro que se baseiam em mudanças drásticas demais, pouco enfáticas e não justificadas. Mas todo o universo criado para o longa realmente respira essa falta de senso, e por vezes essas discrepâncias atuam também como um ponto positivo, como o fato de Vetor pintar a pirâmide roubada com as cores do céu, deixando com que fique exposta bem atrás de sua casa.

O interessante da obra é o trabalho psicológico que aborda. Apesar das coisas acontecerem rápido demais, a mensagem do filme é muito positiva e explora fortemente o relacionamento entre pais e filhos. Gru, desde muito pequeno, sempre quis surpreender sua mãe com suas invenções mirabolantes, mas nunca recebeu a atenção necessária, pelo contrário, sempre foi destratado e desmotivado. Por ser desmerecido a vida toda pela pessoa que ama, Gru só poderia virar um vilão mesmo, ou seja algo ruim e pouco construtivo, e o pior é que ele gosta disso e quer ser o melhor, pois já que não conseguiu ser bom, só lhe restou o mal.

Em contra partida temos as órfãos Agnes, Edith e Margô, crianças adoráveis que teriam tudo para serem tristes e desiludidas. Só que mesmo com os maus tratos da sem caráter Miss Hattie (Kristen Wiig), as crianças são adoráveis e lindas. Fica a cargo delas desmanchar o coração de pedra de Gru, que as adotou pensando apenas em seu plano maligno. Apesar de muito interessante e bonita a mensagem, ela não é trabalhada de forma satisfatória, diferente da Pixar (impossível não comparar) que esmiúça de forma primorosa seus dramas. No geral tudo perde espaço para o plano maquiavélico do vilão.

Toda a força do filme está principalmente no visual e no humor pastelão. Todo esquisito, Gru é uma caricatura viva, que só de olhar já provoca risos, levando tiros de canhões então fica melhor ainda. Junto a ele temos o hilário (e bem surdo) Dr. Nefário (Russell Brand), braço direito de Gru e responsável pela parte técnica das operações. Seus assistentes, os minions, são o melhor do longa e levam a quinta potencia o fator pastelão. Falando poucas palavras, quase sempre sem muito nexo com o que estão fazendo, esses pequenos seres amarelinhos, que mais parecem M&Ms, roubam a cena e protagonizam alguns dos momentos mais engraçados.

Com uma trilha sonora cool, o filme ganha muito, seja no tema do vilão, com um rap que traz toda a suposta malandragem do personagem ao se vangloriar de como é desprezível (Despicable Me), ou também com icônica “Sweet Home Alabama” do grupo setentista Lynyrd Skynyrd. Está música serve de tema para uma família americana de caipiras que visita as pirâmides e tira fotos como se uma delas estivesse em seus ombros. Humor de estereótipos feito com inteligência.

“Meu Malvado Favorito” agrada, só que não mais que isso. Teria dado tudo para assistir a versão legendada do filme, pois que tarefa difícil é substituir Steve Carrel e Jason Segel. Está missão quase impossível ficou a cargo de Leandro Hassum e Marcius Melhem, dupla dinâmica, tipo o gordo e o magro, que apresenta o programa “Os Caras de Pau” aos domingos na rede Globo. Melhen se sai bem e consegue por vezes desaparecer por trás de seu Vetor, mas Hassum não agrada nem um pouco como o personagem principal. Realmente uma pena, pois minha nota final foi fortemente afetada por isso. Já todo o elenco de apoio foi substituído por dubladores profissionais, com um resultado positivo. Final razoavelmente feliz para este malvado de meia tigela.

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