Crítica: Um Parto de Viagem

Posted by Programa Enter

Por: Ronaldo D'Arcadia

Tudo é possível quando Todd Phillips resolve unir Galifianakis e Downey Jr. em uma viagem cruzando os EUA .

Para aqueles que achavam que “Se Beber não Case” foi um golpe de sorte orquestrado por Todd Phillips, “Um Parto de Viagem” veio mostrar que realmente não foi. O diretor, que possui outros trabalhos medianos em seu currículo (nada muito significativo), parece ter encontrado o tom exato para fazer comédia de qualidade, onde, mesmo sendo muitas vezes apelativo, não perde a linha em momento algum.

Basicamente estruturado no modelo “road movie”, o filme começa junto com o dia de Peter Higman, um arquiteto que precisa voar de Atlanta para Los Angeles e acompanhar o nascimento de seu filho, que ocorrerá nos próximos dias. Preparado para viagem, Higman podia esperar por tudo, menos o que iria realmente lhe acontecer: conhecer Ethan Tremblay, um pretenso ator que usa permanente e sonha ir para Hollywood fazer muito sucesso, com seu cachorrinho Sonny a tira colo.

O primeiro encontro dos dois já é literalmente um acidente, de carro, na porta do aeroporto. Após cinco minutos de conversa, que já proporcionam alguns inconvenientes para o arquiteto, ambos se vêem juntos, muito próximos, no mesmo vôo. Novamente, devido a Tremblay e uma palavra mágica dita dentro do avião (palavra que pode te expulsar de qualquer aeroporto dos EUA e te mandar direto para cadeia), a dupla é expulsa e colocada na lista negra das companhias áreas. Com as bagagens despachadas e sem os documentos, perdidos na confusão, Higman se vê sem alternativas de prosseguir até Los Angeles. É quando surge novamente Tremblay, com seu carro alugado, um pedido de desculpas e uma carona garantida para o suposto novo amigo. O resto é uma sequência de acontecimentos absurdos e hilários, uma verdadeira epopéia a ser lembrada para sempre pelos dois companheiros de viagem.

Todd Phillips coloca então, frente a frente, a sanidade do arquiteto versus a loucura do ator. Mesmo seguindo algumas regras já meio batidas do gênero, o roteiro se mostra muito bem trabalhado, centralizando toda sua força nos ótimos e elaborados personagens, principais e secundários. Ao longo da jornada somos expostos a todos os quesitos obrigatórios do humor politicamente incorreto: piadas com cadeirantes, crianças mal educadas, acidentes, e muitas, mas muitas besteiras ditas, além de uma cena incrível, ao som de Pink Floyd, onde o “remédio” de glaucoma de Tremblay (conhecido também como THC) dá um tom alucinógeno e inesquecível para jornada. Contrastando com o humor de primeira, o texto também explora de forma eficiente os dramas de seus personagens, nos levando a entender e nos afeiçoar ainda mais por eles, como a forte relação entre Tremblay e o pai, que para o bem ou para o mal, foi o responsável pela personalidade extremamente irritante do individuo.


O destaque é com certeza Zach Galifianakis. Depois de chamar atenção com seu débil Alan Garner, de “Se Beber não Case”, o ator retoma a parceria com Phillips, agora como protagonista. Seu Ethan Tremblay é incrível. Muito bem construído e estruturado, suas esquisitices vão ao extremo, desde sua aparente alienação mediante ao mundo ao seu redor, como seus improváveis e intermináveis costumes bizarros. Acompanhado de seu cachorro Sonny (que também tem seus momentos estranhos), o usuário compulsivo de remédio para glaucoma é responsável por todas as desgraças que acontecem estrada a fora. Com muita responsabilidade, Galifianakis se tornou Tremblay. Ele ficou tão bem, que muitos podem pensar que o ator é o personagem, e talvez até seja, pois o papel parece ter sido talhado visando sua excentricidade óbvia.

Junto a ele está ninguém menos do que, o novamente ator do momento, Robert Downey Jr., que também dá um show. Interpretando um papel muito mais contido, ele é a ira do público, o saco cheio prestes a explodir. Com a mesma personalidade de sempre, Downey Jr. humilde mente abre espaço para Galifianakis brilhar, o que é fundamental para obra, fazendo desta união improvável uma química perfeita.

Temos ainda aquelas pequenas participações (obrigatórias em todo “road movie”) que dão um brilho especial ao longa. Juliette Lewis aparece hilária como a vendedora de remédio para glaucoma Heidi. Danny McBride surge revoltado como o soldado Lonnie, que voltou do Iraque não levando desafora nenhum para casa. Sua cena é uma das melhores do filme. Por fim, Jamie Foxx interpreta o amigo Darryl, e é o menos aproveitado dos coadjuvantes, mas tem seus momentos. Recheado de referências, o filme faz ainda uma homenagem criativa e inteligente ao seriado “Two and a Half Man”. Com certeza um ponto a mais para quem é fã de Charlie, Alan e Jake.

A trama de “Um Parto de Viagem” pode parecer simples, pois tem destino certo, com seu ponto de partida e chegada já estipulados. Mas a criatividade e o humor de qualidade do diretor e roteirista Todd Phillips são, sem dúvida nenhuma, um diferencial. Com ótimos atores se divertindo em cena, direção competente e trilha sonora contagiante, o filme é, juntamente com “Se Beber Não Case”, uma das melhores comédias do ano.

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