Crítica: Machete

Posted by Programa Enter

Por: Ronaldo D'Arcadia

Robert Rodriguez tenta fazer um filme bom que parece ruim, mas consegue ser apenas ruim.

 


Respeitado por obras memoráveis como “Um Drink no Inferno” e “Sin City”, o amigão de Quentin Tarantino, Robert Rodriguez, é um verdadeiro fanfarrão. Sempre imprimindo em seus filmes aquele clima “B” de se fazer cinema - herdado de seu “El Mariachi”, que com pouquíssimos recursos ganhou visibilidade mundial -, o diretor aqui parece se confundir, fazendo com que o ruim seja apenas ruim.

A idéia de “Machete” surgiu após o alvoroço provocado pelo trailer falso exibido antes da projeção de “GrindHouse” (“Planeta Terror/ A Prova de Morte”), que fez em parceria com Tarantino. O apelo foi tão grande, que o diretor resolveu tirar o projeto do imaginário mundo “fake” e lançá-lo na realidade. Dividindo a direção com o desconhecido Ethan Maniquis - que sempre trabalhou na área de edição e efeitos visuais -, Rodriguez não se mostra consistente como em seus outros trabalhos, apresentando apenas uma cena inicial arrasadora, e prosseguindo de forma trôpega e sem graça até o final.

Tudo começa com o personagem Machete, um policial mexicano honesto e brucutu, que vê sua família ser violentamente assassinada pelo sarcástico Torrez (chefão do crime organizado local), despertando assim o mais puro ódio calcado no desejo de vingança. Com a policia corrupta a favor de Torrez, Machete foge para os Estados Unidos, e lá tenta tocar sua vida. Tudo isso até uma oportunidade única bater a sua porta: Ele é contratado para matar o Senador John McLaughlin, ativista insano que luta contra a invasão ilegal de mexicanos no EUA de forma terrorista. As coisas não saem como haviam sido planejadas, e Machete terá de se virar para sair dessa arapuca em que se meteu, e ainda acertar suas contas com o passado.

Com um roteiro precário, que basicamente faz do acaso uma fada madrinha, o filme nos faz esperar por uma cena tão boa quanto a inicial, mas ela nunca vem. Claramente que Rodriguez tenta fazer das coincidências, incrivelmente convenientes, um fator cômico na trama, mas o resultado não surge este efeito de forma eficaz. No final, a única força motriz da obra está em alguns personagens inusitados que possuem brilho próprio, mas pouco desenvolvimento dentro da história.

Machete é perfeito. Frio e calculista, ele ironicamente, ao mesmo tempo em que pica seus inimigos como um psicopata, tem uma personalidade honrada, além de pegar a mulherada, mesmo com sua cara mal acabada. Danny Trejo, que interpreta o personagem, se sai bem pelo simples fato de reconhecer que não é um bom ator, por isso parece satisfeito em não proferir mais de dez frases durante o filme todo, um verdadeiro exterminador do futuro versão mexicano. Na pele do senador John McLauglin temos ninguém menos que Roberto De Niro. Seu personagem é puro estereótipo, e o ator se vira para tentar torná-lo mais atraente, mas passa longe de ser um vilão digno de nota. Junto a ele, no time do mal, está Jeff Fahey, este sim mais caricato e engraçado com seu Michael Booth, sendo o bandido mais enfático da fita.

Temos também Michelle Rodriguez como Luz, uma bela revolucionaria que luta pelos diretos dos ilegais. Sua personagem é visualmente emblemática, com suas roupas escassas e seu tapa olho chamativo, um refresco no longa. Já Jessica Alba está caricata com sua agente especial da “La migra” Sartana Rivera, e não desperta nenhum carisma, contribuindo muito pouco com o resultado final. Lindsay Lohan (pós-clinica) está muito bem com sua vingativa April Booth, justiceira que veste o hábito de freira e mata criminosos a sangue frio. Junto a ela, também de batina, o eterno maluco Cheech Marin aparece como Padre Cortez, melhor personagem, que também merecia um filme só dele. Para fechar temos o terrível vilão Torrez, interpretado pelo experiente, mas pouco versátil Steven Seagal. Apesar de sua qualidade muito limitada, o ator entrega o papel de sua vida, com um desfecho que, de tão ridículo, se torna hilário.

“Machete” com certeza embutiu esperanças em todos os fãs de “cult movies” mundo a fora, mas com poucas cenas boas e uma história simplória e esquecível, somos obrigados a ser realistas e constatar que o filme é simplesmente ruim. No final, talvez este seja o grande desejo de Rodriguez, de que o filme seja realmente ruim, para assim, de uma forma diferenciada, ele se torne inesquecível. Vai saber.

Leave a Reply