Crítica: The Runaways - Garotas do Rock

Posted by Programa Enter

Por Ronaldo D'Arcadia

O filme tenta tudo, menos retratar de forma satisfatória a história da banda.


 
Em 1975, um grupo de garotas resolveu colocar uma vírgula na história do rock. O conjunto The Runaways foi o primeiro formado apenas por mulheres, que cantavam um rock ‘n’ roll de qualidade e principalmente de atitude. Por trás do sucesso, como sempre, havia um mentor, chamado Kim Fowley, que construiu o visual da banda como ponto primordial, seguindo o conceito, já muito bem sucedido, “Sex Pistols” de ser. Mas isso não queria dizer que o som não era bom, muito pelo contrário. Mas depois de pouquíssimo tempo, quatro anos para ser mais exato, a banda terminou devido a conflitos, que se mostravam evidentes com a constante troca de integrantes.

“The Runaways – Garotas do Rock” apresenta a história da banda desde seu inicio (ou tenta), quando a vocalista e guitarrista Joan Jett conhece o produtor Kim Fowley e a baterista Sandy West, e posteriormente a baixista Jackie Fox (que no filme é substituida por uma personagem fictícia chamada Robin), a guitarrista Lita Ford e a sedutora vocalista “sweet sixteen” Cherie Currie.

O filme passa pelos seus olhos sem dizer nada e nem deixar saudades. Montando os fatos de forma precária e ilusória, não conseguimos nem ao menos captar um terço da essência da banda verdadeira. Baseado no livro "Neon Angel: The Cherie Currie Story", escrito pela própria Currie, fica a dúvida se a obra é sobre a vocalista e sua parceira Joan Jett, ou um retrato da banda. Dos ensaios para o sucesso, do sucesso para as drogas, das drogas para os conflitos e o inevitável fim. Tudo comprimido de forma incrivelmente medíocre, com as outras integrantes sendo simplesmente extirpadas do processo.

Claramente que todos os olhos estão voltados para as garotas prodígio Dakota Fanning e Kristen Stewart, interpretando Cherie Currie e Joan Jett, respectivamente. Apesar do talento das garotas, o resultado, assim como todo o filme, é desprovido de alma própria. Enquanto Fanning parece desconfortável ao se despir, literalmente, da inocência de outrora - onde falava com animais e era sempre inteligentemente fascinante-, Stewart se sai um pouco melhor com a masculinizada Jett, mas apesar de entregar uma interpretação satisfatória, seus trejeitos de garota tímida (que já estão se tornando um cacoete) acabam minando o resultado final, mostrando que sempre tem um pouco de “Bella” em suas personagens.

Já Kim Fowley, interpretado pelo sempre excêntrico Michael Shannon, é um refresco, apesar de que, com um tempo de projeção, sua chatice se torne um fator limitante. Claramente que o produtor, assim como todos bons vendedores de celebridades da época, devia ser um sujeito intragável, mas seu repetitivo incentivo a banda, baseado apenas em insinuações sexuais, acabam em certo momento cansando. Mas no geral seu personagem é de longe o melhor.

Já as outras integrantes simplesmente não existem. Como já foi dito, a baixista Jackie Fox não quis ser nem ao menos citada no filme, sendo substituída pela ficcional Robin, que entra e sai calada. Lita Ford, a guitarrista virtuosa de cabelos lisos, tem suas únicas aparições direcionadas à posição de chata e vilã, o que fica explicito em uma cena final, onde o senso do ridículo é simplesmente ultrapassado. Lita também não se envolveu com o filme, claramente. Sandy West, que morreu em 2006, tem uma partipação um pouco mais relevante, mas sempre caricata e sem profundidade.

Os pontos positivos do longa vão para a produção, que modela com perfeição o visual das garotas. O show no Japão é simétrico. Talvez o espírito de anos 70 pudesse ser melhor trabalhado, pois não sentimos tanto a viagem para aquela época devido ao caráter extramamente pop instaurado pelas atrizes principais, mas a trilha sonora arrasadora segura as pontas, com clássicos que passam por James Brown, The Stooges e David Bowie. Outro ponto positivo é o fato das atrizes, Fanning e Stewart, cantarem algumas canções, com um resultado convincente.

A direção de Floria Sigismondi é competente, mas desprovida de originalidade. Fica no feijão com arroz, tudo bem videoclipe, que é sua área. Já seu roteiro, baseado no livro de Currie, como já foi citado, é uma afronta a história da banda, por resumir de maneira caótica sua cronologia, fazendo com que seu desfecho apresente um chilique ao invés de um rompimento.

Joan Jett e Cherie Currie tiveram uma posição importante na história da música, pois foram as primeiras representantes feminas enfáticas do rock ‘n’ roll marginal da época. Joan Jett, depois de terminar com a The Runaways, gravou alguns dos clássicos mais maneiros do rock, como “I Love Rock ‘n’ Roll”, "Crimson and Clover" e “Bad Reputation”. Com o filme, o valor das musicistas é de longe explorado, e apesar delas serem as únicas visadas na produção, com certeza a intenção de reelembrar a época perdida foi uma decepção.

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